Um diálogo franco e informal com pacientes que receberam órgãos transplantados foi o tema da aula de 09 de setembro, na disciplina Doação e Transplante de Órgãos e Tecidos do curso de Medicina da Universidade Católica de Pelotas (UCPel).
A aula ocorreu no novo Centro Acadêmico do Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP), e foi coordenada pela nefrologista Prof. Maristela Böhlke, e pelo coordenador da Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (ADOTE), Prof. Francisco Assis. Esta disciplina é pioneira no Brasil, e no Rio Grande do Sul disponibilizada somente na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e na UCPEL.
Foi incluída, há 1 ano, no currículo da Medicina da UCPEL, justamente para propiciar um contato precoce daqueles que serão os futuros responsáveis pela saúde no Brasil com o contexto do transplante de órgãos.
E os profissionais da saúde desempenham papel crucial nesse processo de doação, tendo em vista que são os responsáveis por identificar pacientes em morte encefálica e informar as famílias da possibilidade de doação dos órgãos.
Para que se tenha uma idéia, no Brasil atualmente, cerca de 28.000 pessoas esperam por um órgão. Muitas dessas pessoas correm contra o tempo, tendo em vista que seus próprios corações, fígados e pulmões já não conseguem desempenhar suas funções básicas e em curto espaço de tempo não serão mais capazes de manter a vida.
Segundo Maristela, essas pessoas dependem desesperadamente de um doador altruísta, pelo consentimento de alguém que, mesmo frente dor da perda de um ente querido, opte por permitir que seus órgãos permaneçam, mantendo a vida de outra pessoa. A falta de doadores é o principal limitante para a redução das filas de transplante.
Estiveram presentes nesta aula, quatro pacientes transplantados, Leonardo Talavera Campos, que recebeu um fígado há 5 anos, Antonio Medeiros, transplantado cardíaco há 13 anos, e Michel Boettege Tedesco de 28 anos e Miriam Picanço de Oliveira de 30, os quais receberam rins transplantados no HUSFP, há 6 e 2 meses, respectivamente.
Os transplantados tiveram a oportunidade de contar como suas doenças foram diagnosticadas e a vida que levam após o transplante. Leonardo Campos contou que foi diagnosticado com hepatite C, evoluiu para a cirrose e posteriormente o hepatocarcinoma (câncer de fígado), e culminou com o transplante de fígado. Explicou com todos os detalhes médicos, que aprendeu no decorrer da sua doença e hoje está muito bem, disse que leva uma vida absolutamente normal.
Antonio Medeiros provocou muitas risadas com sua visão muito peculiar da vida e relatou nunca ter se interessado em aprender o nome das doenças, “estou ótimo e trabalhando mais do que nunca”, concluiu.
Graças ao rim que recebeu do próprio pai, Michel Tedesco, motorista de caminhão, diz que pretende voltar para as estradas em breve.
Miriam Picanço de Oliveira é diabética desde os 9 anos de idade, formada em Nutrição, relata que a escolha da profissão foi influenciada pela doença e proporcionou poder cuidar de sua própria dieta. Natural de Canguçu foi estudar em São Paulo e no último ano da faculdade descobriu que o diabete havia lesado seus rins de forma tão grave a ponto de precisar de diálise. Iniciou o tratamento com hemodiálise sozinha, longe da família, mas resolveu que ia concluir a faculdade. Recebeu um rim da irmã, e seu maior desejo é trabalhar agora que não depende mais de hemodiálise e já está levando uma vida normal.
“A possibilidade de uma visão humanizada, com um rosto, um nome e uma história, do transplante de órgãos, muda a percepção desses futuros profissionais da saúde em relação ao procedimento. O transplante deixa de ser um frio relato técnico nas páginas de um livro e passa a representar um sorriso no rosto de alguém cuja vida foi salva por um ato de grandeza e solidariedade que é a doação de órgãos”, enfatiza Profa. Maristela.
Quem desejar obter mais informações sobre doação de órgãos ou como se tornar um doador, é só acessar www.adote.org.br
Seja um doador e ajude salvar muitas vidas!!!!