No Dia Mundial da Psoríase, 29 de outubro, o Ambulatório da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) reforça a importância do diagnóstico precoce e do combate ao preconceito que ainda cerca essa condição. O serviço é o único da região sul do Rio Grande do Sul a oferecer tratamento específico e gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para pessoas com psoríase, uma inflamação crônica da pele que afeta milhares de brasileiros.

O projeto teve início em abril de 2024 e é coordenado pelos doutores Joice Goebel e Ralph Vighi da Rosa, com participação ativa de estudantes da UCPel. A equipe atende entre seis e oito pessoas por semana, somando mais de 300 atendimentos anuais. Além do cuidado clínico, o grupo também atua na formação de médicos e profissionais da atenção básica, promovendo treinamentos anuais para ampliar o reconhecimento e o manejo adequado da doença nos postos de saúde.

Um dos principais desafios enfrentados é o diagnóstico tardio. Há casos de pessoas que convivem há mais de 20 anos com a psoríase sem um diagnóstico correto, o que reforça a necessidade de difundir informações sobre sintomas e possibilidades de tratamento.

Outro ponto sensível é o preconceito. Ainda há quem confunda a psoríase com hanseníase, e muitos pacientes relatam episódios de discriminação e repulsa.

Entre os atendimentos realizados, as histórias revelam o impacto social e emocional causado pela doença. A cabeleireira Angela Boanova Martins contou que passou anos tentando esconder as lesões para evitar olhares de rejeição. Segundo ela, o preconceito foi doloroso, e o atendimento no ambulatório trouxe esperança e acolhimento que há muito não sentia. Angela comenta que, por desconhecimento, clientes já pediram que usasse luvas durante o trabalho, demonstrando medo de contágio.

Mesmo convivendo há anos com a psoríase, ela afirma que, desde o início do tratamento, sua vida mudou completamente. Diz se sentir “99% curada”, apesar de saber que a doença não tem cura definitiva. Para ela, a melhora devolveu sua autoestima e a sensação de ter a vida de volta ao normal.

Outra paciente, Simone Marques, relatou que precisou se afastar do trabalho devido à psoríase. Ao buscar um benefício no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), ouviu de um médico, durante a perícia, que a condição “não era nada demais”. A situação a deixou profundamente abalada. Simone também lembrou das dores intensas que enfrentou ao longo dos anos, citando momentos simples, mas marcantes, como quando precisava tomar banho e sentia a água cortando seus pés.

A doutora Joice Goebel destaca que muitos pacientes chegam ao serviço com a doença em estágio avançado, justamente pela falta de informação e pelo receio do julgamento. Ela reforça a importância de conscientizar a população de que a psoríase não é contagiosa e que o tratamento precoce traz resultados muito mais eficazes.

O médico Ralph Vighi da Rosa explica que os efeitos da psoríase vão muito além do aspecto físico, comprometendo a autoestima e a vida social das pessoas. Ao ser questionado sobre esses impactos, ele observou que o preconceito e o isolamento acabam agravando o quadro emocional, o que pode até intensificar os sintomas.

“Além de todos os impactos físicos que ela causa, a inflamação na pele e o risco de outras doenças, o impacto emocional é profundo. Esses pacientes acabam ficando reclusos, têm dificuldade de sair de casa, as pessoas têm preconceito, se levantam do ônibus quando eles vão sentar. A gente ouve relatos todos os dias. Tem pacientes que perdem empregos, como um garçom que tinha psoríase nas mãos e foi demitido porque os clientes não queriam ser atendidos por ele. Outra paciente perdeu o trabalho no supermercado porque o chefe achava que ela tinha fungo nas unhas. O impacto é profundo: muitos entram em depressão, e a própria doença pode causar depressão, criando um ciclo vicioso. Há também vários casos de pacientes que perderam companheiros por causa da doença”, relata o médico.

O tratamento oferecido no ambulatório segue protocolos aprovados pelo Ministério da Saúde e inclui medicamentos injetáveis disponíveis no Brasil, que atuam diretamente na via inflamatória da psoríase, ajudando a controlar as lesões e melhorar a qualidade de vida. O Ambulatório de Psoríase da UCPel reforça que o atendimento é gratuito e aberto à comunidade.

Além disso, como parte das ações de conscientização, a UCPel promoverá um estande especial nesta quinta-feira, dia 30, a partir das 17horas, com a presença dos médicos e estudantes da Liga Acadêmica de Dermatologia. No local, o público poderá tirar dúvidas, receber material informativo e aprender mais sobre a psoríase, uma doença não transmissível, que tem tratamento e permite uma vida melhor mesmo sem cura definitiva. A iniciativa busca aproximar a população do tema, promovendo informação, empatia e o combate ao preconceito.