Era perto das 6h20min quando o celular de Vanderlei Schneid de Lima, 49, tocou pela primeira vez. Ressabiado com as constantes ligações de tele-vendas, não hesitou e rejeitou a chamada. Poucos segundos depois o mesmo número volta a insistir. O jeito foi se render. Do outro lado da linha, a ligação esperada desde 2017 quando ingressou na fila de espera por um transplante de rim: era a confirmação de que sua cirurgia ocorreria dentro de algumas horas.

Passado o susto e já com o novo órgão transplantado, Lima está em recuperação no Hospital São Francisco de Paula (HUSFP) e ansioso pela nova vida que o espera. Ele não vê a hora de poder ter mais qualidade de vida ao lado do filho de oito anos. “Foi ele quem me ajudou. Tive que ser forte por ele e para chegar até aqui”, conta sem conseguir conter a emoção em reencontrar o pequeno e “poder viver melhor ao lado dele”.

Apesar de celebrar que não dependerá mais das máquinas (diálise) para o funcionamento dos rins, Lima não esconde o sentimento em relação às pessoas que deixará no hospital. “Aqui tu vens um dia sim outro não, a gente é uma família. É como quando a gente se forma e sabe que os colegas estarão marcados para sempre na nossa vida, mas que não vamos encontrá-los mais com tanta frequência”, explica.

A cirurgia do auxiliar óptico marcou a retomada dos transplantes no HUSFP, realizados desde 2012. Desde o começo da pandemia de Covid-19, no ano passado, nenhum procedimento havia sido realizado no local, o único hospital da Metade Sul do Estado que realiza transplantes renais.

Lima recorda que nesses quatro anos de espera tiveram quatro momentos em que esteve próximo de realizar o procedimento. As três primeiras foram logo que ingressou na fila de transplantes, mas em nenhuma delas era o primeiro da lista e acabou não se oportunizando. Já na penúltima chamada a opção foi por aguardar mais um tempo, pois mesmo sendo o seu momento, seria necessário encarar um período de tratamento em razão do órgão doado e haviam grandes chances de rejeição.

Conforme a nefrologista Maristela Bohlke, responsável pela equipe de transplantes, a cirurgia de Lima, realizada no dia 26 de outubro durou cerca de quatro horas e ocorreu sem intercorrências. Ele recebeu o órgão de uma mulher, de 35 anos, falecida. “É preciso sempre lembrar e agradecer a estas famílias, que mesmo enlutadas, em um momento de extrema dor, conseguem transpor a situação e oferecer o maior gesto de amor, decidir pela doação”, diz a especialista ao destacar a importância da doação de órgãos.

A equipe responsável pelo procedimento contou com os cirurgiões Diego Laranjeira, Francis Vogel, João Gabriel Siqueira e com a enfermeira Larissa Ribas.