Há cinco anos, o Hospital Universitário São Francisco de Paula realiza transplantes de rim. Até hoje, 17 transplantes foram feitos, e com sucesso. No dia 11 de janeiro à 00h15, o hospital realizou seu primeiro transplante renal de 2017. A paciente transplantada foi a aposentada, Rosane Otto Neitzel, de 54 anos. “Fui tranqüila. Acreditei que chegaria minha hora. Prometi cuidar do rim novo daqui em diante”, comentou Rosane. A ex-comerciante descobriu um problema nos rins em 1998, desde então passou por alguns processos. Há nove anos, em julho de 2008, ela iniciou o processo de hemodiálise. No ano de 2013 foi a primeira vez que Rosane entrou na lista de espera para receber a doação de um rim, porém, em 2014 devido a uma infecção, teve que ser retirada da lista e retornar somente em outubro de 2016.
COMO FUNCIONA A DOAÇÃO E O TRANSPLANTE
Receber um rim de doador falecido é algo que depende bastante da sorte do paciente. Isso mesmo, sorte, pois o doador e o paciente precisam ter o mesmo tipo sanguíneo e HLA (marca imunológica das células) parecido, entre outros fatores. Sendo assim, é difícil estimar com precisão a chance de ser transplantado a cada ano de espera.
A doação pode ser feita de duas maneiras. A primeira, e talvez mais simples, é feita através de um doador vivo. Para que isso aconteça é preciso que o tipo sanguíneo do doador seja compatível com o do paciente, ou seja, grupo ABO compatível, o fator Rh não interfere na doação. É permitido por lei o doador ser familiar até 3º grau de parentesco, alguém mais distante, só mediante autorização judicial. Se o paciente e doador estiverem saudáveis, conforme os exames necessários marca-se o transplante. A segunda maneira é através de um doador falecido, para isso, existe uma lista única para receber cada órgão. Essa é uma lista estadual, caso não existam doadores-pacientes compatíveis, se oferece o órgão para outros estados.
Para se receber o órgão é feito o exame simples de grupo sanguíneo, mais o de HLA (Complexo Maior de Histocompatibilidade). Cada célula tem uma molécula de HLA, que é como se fosse a “impressão digital” de cada um. São comparadas seis moléculas principais nesse tipo de exame. Quanto mais semelhante for o exame de HLA do doador com o receptor, mais chances o transplante tem de obter sucesso. No caso da Rosane, quatro dessas seis, eram idênticas.
A Central de Transplante do Estado do Rio Grande do Sul recebe a notificação da morte encefálica, e envia uma equipe para a captação dos órgãos. Imediatamente o órgão é acondicionado em um líquido bem gelado, e armazena-se em gelo. Para o rim, é tolerável um tempo máximo de 24 horas fora do corpo e nessas condições, mas quanto menor o tempo, mais chances o órgão tem de funcionar bem.
No transplante de rim, o novo órgão é colocado através de uma incisão abdominal, devido à facilidade de acesso, além de não ser necessário retirar os rins doentes para colocar o novo. Na operação é ligada uma artéria, uma veia e a bexiga. A operação é considerada de baixo risco, mas de alta complexidade devido às delicadas suturas que ligam o órgão. É uma cirurgia que leva em média 3 horas, e o paciente fica de três a sete dias internado, além de receber acompanhamento intenso nos primeiros tempos, o que vai reduzindo de forma gradativa (três vezes por semana, quinzenal, e mensalmente).
Após a cirurgia, a imunidade do paciente deve ficar baixa, por isso, ele é medicado com imunossupressores (medicação que baixa a reação das células imunológicas para que elas não ataquem o órgão transplantado). O paciente transplantado deve usar esses comprimidos imunossupressores para o resto da vida.
“Hoje eu estou muito bem, sou outra pessoa. É uma nova vida. O simples fato de poder urinar depois de cinco anos, é uma festa!”, comemora Rosane após o transplante.
HEMODIÁLISE
A função do rim é filtrar o sangue e eliminar toxinas através da urina. A hemodiálise é um processo de filtragem do sangue, substitui os rins que estão doentes. Ela acaba fazendo o trabalho que o rim doente não faz. Quando um rim tem menos de 10% de funcionamento, já não é possível sobreviver sem diálise ou transplante. O rim doente acaba permitindo o acúmulo no sangue de substâncias tóxicas, e se torna incompatível com a vida. Até a década de 50, a pessoa que não tinha o funcionamento dos rins, estava condenada a morte. Ao longo do tempo, isso foi mudando. A primeira máquina de hemodiálise surgiu na época da 2ª guerra mundial. Já no Brasil, ela chegou apenas em 1970.
O processo de hemodiálise funciona da seguinte forma, uma veia é ligada em uma artéria para confeccionar o que se chama fístula, a qual é puncionada e o sangue é retirado do corpo através de uma bomba de rolete. O sangue entra no dialisador que realiza a filtragem do mesmo, e faz com que ele retorna ao paciente limpo. O sangue fica limpo após entrar em contato com uma solução eletrolítica produzida pela mistura por meio de uma água ultra pura com solutos. Através da hemodiálise, o sangue do paciente elimina as substâncias tóxicas em excesso (uréia, creatinina, entre outros) que não são eliminadas pelos rins doentes.
A equipe que fez parte do transplante de Rosane foi: Dra. Maristela Böhlke (Médica Nefrologista), Dr. Daniel Vanti (Médico Urologista), Dr. Diego Gressler (Cirurgião Vascular), Dra. Raquel Fischer (Anestesista), Dr. Vinicius Alano (Residente da Nefrologia), enfermeiras Larissa Ribas, e Vanessa Karine, e os residentes Dr. Pedro Seretta e Dra. Raquel Duryski. “A equipe do transplante foi nota mil comigo”, finalizou Rosane.
No Hospital Universitário São Francisco de Paula existem 18 pacientes na lista de espera para o mesmo transplante da Rosane. Seja um doador! Manifeste sua vontade aos familiares. O próximo agradece!