Faltando quatro dias para fechar um mês de internação, Hendrik Fontoura Guimarães, 24, teve alta nesta quarta-feira (1). No dia 5 de novembro ele recebeu um rim do próprio pai, Maxnei Guimarães, 50. Na rampa do Hospital São Francisco de Paula parentes e amigos se reuniram para recepcionar o recém transplantado.

“Nasci a primeira vez da minha mãe e agora do meu pai", disse Hendrik ao tentar definir o gesto do pai. A cirurgia do jovem cozinheiro foi a segunda realizada neste ano na casa de saúde e a primeira de 2021 entre vivos. O São Francisco de Paula é o único hospital da Metade Sul gaúcha a realizar transplantes renais.

A partir de agora a expectativa de Hendrik é se despedir de vez da diálise. A espera é a mesma da esposa Marília Laner, 25, grávida de quatro meses. Entre os planos do casal, além dos cuidados com o primeiro filho, está o de ter mais liberdade e fazer coisas simples, como viajar com tranquilidade e mais: desfrutar do passeio.

Marília conta que eles chegaram a fazer um passeio à Santa Catarina, mas a viagem acabou se tornando um grande pesadelo. “Hendrik ficou alguns dias sem hemodiálise voltou dez quilos mais pesado devido à retenção de líquidos. Foi horrível", relembra ela.

Um amor sem limites

Gonha, como é carinhosamente chamado pelo pai e familiares, descobriu o problema no rim, uma doença imunológica rara, em 2018 e há um ano e meio aguardava na fila de transplantes. Angustiado com o sofrimento do filho, preso a longas horas de hemodiálise três vezes por semana e já demonstrando desânimo em atividades cotidianas, Maxnei não pensou duas vezes e deu início aos testes de compatibilidade. Na escala de zero a seis eles alcançaram o nível quatro, garantindo assim a possibilidade do transplante.

Pai de outros dois meninos, Maxnei conta de Hendrik foi uma criança maravilhosa e nunca teve nenhum problema. Os cuidados dele e da esposa eram focados no outro filho, portador de diabetes tipo um. Questionado quanto ao sentimento de se tornar um herói para Hendrik, Maxnei revida: “Herói é o meu filho que enfrentou toda essa dura rotina e tão jovem", argumenta.

É preciso ampliar a doação por morte encefálica

Conforme a nefrologista Maristela Bohlke, responsável pela equipe de transplantes, para ser um doador em vida, três fatores são fundamentais: compatibilidade ABO (sanguínea), vontade e boa saúde. Contudo, para ela o ideal é que o número de doadores em morte encefálica seja maior para evitar que pessoas saudáveis se submetam à retirada de órgãos. “É um contrassenso enterrar um órgão saudável", analisa a médica. Para Maristela as famílias precisam conversar mais a respeito da morte e deixar claro o desejo de se tornar um doador quando esse momento chegar para evitar que o procedimento em vida seja realizado.

No Brasil, por lei, pais, irmãos, filhos, avós, tios e primos podem ser doadores em vida. Não parentes podem ser doadores somente com autorização judicial. O "doador vivo" também precisa ser capaz juridicamente e concordar com a doação. Além do rim também é passível de doação em vida a medula óssea, fígado ou pulmão.

A equipe responsável pelo procedimento contou com os cirurgiões Diego Gressler, Daniel Vanti e João Gabriel Siqueira e com a enfermeira Larissa Ribas.