Diante de uma crise de credibilidade, a Organização Mundial da Saúde (OMS) prepara um plano gradual e uma fase de transição a fim de decretar o fim da pandemia de gripe A. Na terça-feira (23), a entidade reúne seus maiores especialistas em influenza para determinar se a gripe já superou sua fase mais aguda. Se isso for constatado, esse seria o primeiro passo para a declaração do fim da pandemia do vírus H1N1.
Sob pressão, a entidade está sendo obrigada a rever suas regras para a declaração de pandemias, além de estar sendo investigada por parlamentares europeus. Em Genebra, os especialistas avaliarão as tendências da gripe nos últimos meses e tentarão definir uma estratégia a partir de agora. Os números indicam que a maioria dos países do hemisfério Norte está observando uma queda importante no número de casos.
Em junho, a OMS declarou a primeira pandemia de gripe dos últimos 40 anos, elevando seu alerta para o nível máximo em uma escala criada há quatro anos - com uma graduação de 1 à 6. Até a semana passada, 16 mil pessoas haviam morrido desde abril de 2009, contaminadas pelo vírus H1N1. Por ano, cerca de 250 mil pessoas morrem de gripe sazonal no mundo. "Nas zonas temperadas do hemisfério norte, a atividade da pandemia continua a cair em muitos países", afirmou a OMS.
Na Suíça, por exemplo, o governo optou por se antecipar à OMS e já decretar o fim da epidemia no país. Milhões de vacinas compradas pelos países ricos acabaram encalhadas, enquanto o vírus acabou se mostrando mais suave que o previsto. Políticos europeus passaram a questionar os motivos da declaração da pandemia.
Agora, 15 especialistas vão se reunir amanhã (23) em Genebra para avaliar a situação. A OMS garante que, por enquanto, não há na agenda a possibilidade de que o encontro declare o fim da pandemia. "Ou ficaremos no nível 6 de alerta ou iremos para uma fase pós-pico da pandemia. Essas são as únicas duas possibilidades ", afirmou o porta-voz da OMS, Gregory Hartl. Os 15 especialistas entregarão sua avaliação no final do dia à diretora da OMS, Margaret Chan. Ela, então, anunciará a decisão na quarta-feira (24) após consultar governos.
Segundo ele, a fase "pós-pico" seria essencialmente uma transição entre a pandemia e uma fase em que o vírus teria um comportamento parecido ao da gripe sazonal. "Isso significa que muitos países já teriam experimentado o auge da gripe, mas isso não significaria ainda que ela teria sido totalmente superada em todos os países. Poderíamos ver ainda novas ondas de infecções", disse Hartl.
Uma das regiões que será alvo de maior atenção será o sul do Brasil, Argentina e Chile. Para a OMS, o inverno no Cone Sul nos próximos meses e o comportamento do vírus serão fundamentais para que a entidade tome uma decisão de declarar o fim da pandemia. Mas a entidade admite que, pela experiência passada, a fase de transição poderia levar alguns meses para ser superada. " O vírus ainda pode ser uma ameaça significativa na medida que caminhamos em direção ao outono e inverno (no Hemisfério Sul) ", indicou Keiji Fukuda, chefe da divisão de influenza na OMS. " Portanto, não estamos ainda no fim da pandemia ", disse.