Os alunos da disciplina Doação e Transplante de Órgãos e Tecidos, do curso de Medicina da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), assistiram a uma aula especial na última semana. A atividade foi ministrada pelos coordenadores da equipe que mais realiza transplantes renais no Rio Grande do Sul, os médicos nefrologistas Valter e Clotilde Garcia, professores da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre (FFFCMPA) e profissionais atuantes na Santa Casa de Misericórdia da capital. A aula teve como assunto central o panorama atual dos transplantes no Brasil.
Os convidados se mostraram lisonjeados ao conhecer, pessoalmente, a experiência da UCPel com a disciplina, cuja criação foi inspirada na iniciativa deles em Porto Alegre. A FFFCMPA foi a primeira universidade do estado a oferecer a disciplina. A UCPel, a segunda. “No país inteiro, são poucas as universidades que têm disciplinas como essa.
Mas, deveriam ser todas. A experiência está mostrando que os profissionais da área de saúde têm necessidade de aprender sobre o tema”, comentou Clotilde. Para o fundador e coordenador da Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (ADOTE), Francisco de Assis, que acompanhou a atividade, o oferecimento da disciplina na UCPel é um importante passo para melhorar o quadro geral. “Os novos médicos já vão sair da Universidade com noção do processo como um todo. É claro que não adianta investir num só pilar, como a educação, mas é um ótimo começo”, pontuou.
Dados como o do aumento no número de transplantes feitos no Brasil foram apresentados na ocasião. Segundo Garcia, de 1998 para cá, o índice triplicou. “Entretanto, precisa, ainda, multiplicar por mais três para chegar ao ideal”, disse. O nefrologista também mostrou que, em 2011, 86% dos transplantes realizados foram de córneas. O índice relacionado aos transplantes de pulmão foi de apenas 3%. No gráfico comparativo sobre a lista de espera para cada órgão foi possível perceber o contraste entre o grande número de pacientes que aguardam por rins ou córneas, por exemplo, e o pequeno número que espera por um fígado. Mas, infelizmente, a fila pequena não é motivo de comemoração, já que o baixo índice de pacientes no aguardo significa, na maioria das vezes, que os demais morreram antes de passar pelo sonhado procedimento. “O transplante é a única forma de tratamento que, além da equipe médica e do paciente, precisa de outro elemento: o doador”, enfatizou Garcia, ao enumerar as várias partes do complexo processo que envolve estrutura, consentimento familiar, aspectos logísticos, remoção de órgãos e tecidos, dentre outras questões. Muitas vezes em alguns desses pontos o método que tem como principais objetivos evitar a morte e melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas Brasil afora acaba emperrado.
Todavia, ajudar a mudar essa realidade – seja por divulgar a causa com a propriedade de quem entende do assunto ou por trabalhar as melhores formas de aplicar a teoria na prática – é o grande objetivo dos 30 alunos matriculados na disciplina optativa da UCPel. “Essa é nossa terceira aula e a experiência está sendo muito interessante. Os alunos estão tão empolgados que já criaram até página no Facebook para compartilhar seus conhecimentos”, destacou, orgulhosa, a coordenadora da disciplina, professora Maristela Böhlke.
Vitória Gonçalves faz parte dessa turma e resolveu que vai expandir sua colaboração com a causa além da atuação profissional. “Decidi ser doadora e até já comuniquei minha família sobre isso”, afirmou.
Fonte: Assessoria de Comunicação UCPel