Uma pesquisa questionando o paradoxo da obesidade, relacionado à sobrevida em pacientes com câncer de acordo com a composição corporal, desenvolvido pela professora Maria Cristina Gonzalez, da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), foi reconhecida internacionalmente. O estudo foi premiado na 4ª Conferência Internacional de Terapia Nutricional em Câncer, realizada na Croácia.
Docente do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento (PPGSC) da UCPel, Maria Cristina apresentou a pesquisa como apresentação oral e pôster. O evento, patrocinado pelo laboratório Abbott, reúne exclusivamente especialistas na área de Nutrição em Câncer do mundo todo. De acordo com a professora, a relevância do prêmio se dá não apenas pelo número de participantes, mas pelo "quilate" dos concorrentes. "Eu nem esperava", conta.
O paradoxo da obesidade diz respeito à sobrevida de pessoas mais obesas em relação à determinadas patologias, contrariando a ideia geral de que saúde e sobrepeso não combinam. "Todo mundo sabe que gordura prejudica a saúde e todo mundo quer emagrecer. Mas alguns estudos têm mostrado que, em doenças cardíacas, renais e algumas outras doenças crônicas, os mais gordos sobrevivem mais. Isto é um paradoxo, pois eles deveriam ter menor sobrevida", explicou.
O objetivo do estudo premiado foi testar se em pacientes com câncer, recebendo quimioterapia, também ocorria maior sobrevida de pacientes mais obesos. De acordo com ela, o problema é que, na maioria dos estudos, a obesidade é definida pelo Índice de Massa Corporal (IMC) - peso dividido pela altura ao quadrado. No entanto, a obesidade é caracterizada pelo excesso de gordura, e o IMC não consegue identificar quem tem excesso de gordura ou de músculo.
Atualmente, os cientistas podem utilizar exames mais corretos para fazer essa avaliação, como a bioimpedância elétrica. "Este exame dá uma ideia melhor de quanto temos de gordura e quanto temos de massa magra no nosso corpo", afirmou.
De acordo com a professora, quando foi feita a avaliação dos pacientes usando o IMC, o resultado mostrou que os que tinham IMC de obeso realmente tinham sobrevida maior. Mas, quando isso foi verificado através da composição corporal, a constatação foi de que existem dois tipos de obesos: os que têm excesso de gordura e os que têm esse excesso mas tiveram perda de músculo (chamados obesos sarcopênicos). O estudo apontou que estes foram os que tiveram a menor sobrevida. "Quando analisamos todos os fatores de risco juntos, o que realmente aumentava o risco de mortalidade era a perda de massa muscular", alertou a pesquisadora.
De acordo com a professora, essa constatação indica duas importantes conclusões: existem pessoas consideradas obesas, mas que têm pouco músculo, e que elas têm tanto risco como aqueles que são considerados "desnutridos" ou muito emagrecidos.
A dificuldade neste caso é que os obesos sarcopênicos não podem ser identificados apenas pelo peso e IMC. É preciso verificar a quantidade de massa magra. "Todo aquele paciente que perdeu massa magra, ou seja, músculo, tem maior risco de mortalidade". A pesquisadora alerta, ainda, que esse grupo de pessoas precisa ser acompanhado por uma Equipe de Terapia Nutricional para receber a orientação adequada a fim de evitar maiores perdas durante o tratamento.
Atualmente, Maria Cristina realiza Pós-Doutorado no Pennington Biomedical Research Center, na Universidade de Louisiana, Estados Unidos, com bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ela retorna para a UCPel em agosto.
Fonte: Assessoria de Comunicação UCPel