No mês de junho o Hospital Universitário São Francisco de Paula homenageia os colaboradores que se dedicam por longos períodos à instituição. O projeto Quem Faz História No Chico prestigia os profissionais com 10, 20 e 30 anos de serviços prestados com pins de bronze, prata e ouro respectivamente. O evento ocorrerá ao final deste mês comemorativo, onde o HU celebra seus 61 anos, mas as homenagens já começaram.

Crenilda Furtado Azambuja ingressa no Hospital Universitário São Francisco de Paula em novembro de 1988 no Pronto Atendimento Pediátrico do Sistema Único de Saúde (SUS). O amor pelas crianças a manteve sempre neste setor. “Sempre fui muito fiel, muitas vezes esquecia de mim para pensar nas crianças. É uma coisa minha mesmo, eu me dôo muito aos meus pacientes”, conta.

A Técnica de Enfermagem lembra que naquela época, em meados dos anos 80, a realidade financeira de grande parte da população era bastante diferente e que muitas vezes mexeu no próprio bolso para ajudar os pacientes em situação de vulnerabilidade social. “Quando comecei a trabalhar no hospital a vida era outra e as pessoas passavam muita dificuldade, muita mesmo, não tinham condições. O mundo mudou muito e hoje muitos tem acesso a benefícios que ajudam pelo menos a comprar o básico. Eu sempre procurava ajudar, sempre me doando e pensando que Deus proverá pra mim quando eu precisar”. Crenilda comprava fraldas e mantinha um armário sempre com roupas para entregar àqueles que não tinham o que vestir. “É muito gratificante encontrar as mães até mesmo na rua e ser reconhecida como aquela enfermeira querida. Pra mim sempre valeu muito”, acrescenta.

Certo dia enquanto dirigia-se para o hospital de ônibus, uma criança no colo da mãe chamou a atenção da Técnica de Enfermagem. “Já estávamos muito perto do hospital quando eu comecei a observar aquela criança. Percebi que o quadro de insuficiência respiratória era grave. Peguei a menina nos meus braços e saí correndo em direção ao Pronto Socorro Pediátrico [como era conhecido na época] e a mãe veio atrás de mim sem entender nada. Entrei direto. A criança precisou de cuidados respiratórios, era grave e foi por pouco. Depois a mãe me agradeceu e contava pra todo mundo que eu tinha salvado a vida da filha dela. Graças a Deus eu estava lá”, lembra.

Em outro episódio, auxiliando no Pronto Atendimento Adulto, deparou-se com uma paciente que chorava muito. Pensou tratar-se de alguma dor muito forte, mas foi surpreendida. A paciente revelou que havia conseguido um novo emprego há apenas duas semanas, mas estava doente e a médica havia sugerido internação já que não havia recebido o primeiro salário e não tinha dinheiro para comprar o remédio. “Ela não podia faltar ao serviço, mas a médica disse que se não pudesse comprar o remédio precisaria internar para realizar o tratamento no hospital. Eu chamei minha filha e pedi que fosse até a farmácia com a receita comprar os medicamentos que aquela mulher precisava. Entreguei a ela os antibióticos que estava precisando para que pudesse levar pra casa e não se afastar do trabalho durante o tratamento. Meu coração ficou leve novamente, mas se me perguntar quem é eu não sei responder. Pra mim é apenas mais uma paciente que eu atendi com carinho”.

Ao longo de três décadas de serviços prestados no HU, Crenilda afirma orgulhosa que teve bom relacionamento com todos os colaboradores das equipes que integrou. “A gente aprende até mesmo a se relacionar. Eu aprendi muito, tenho muitas coisas boas para lembrar. Sempre pensei muito nos meus colegas, evito faltar ao trabalho para não sobrecarregar ninguém”, diz.

A Técnica de Enfermagem, que já está aposentada mas prefere seguir atuando junto aos pequenos pacientes garante que esse é o lugar onde queria estar. “Pra mim o hospital é tudo. Marcou muito a minha vida, me ajudou muito. Pude criar e educar minha filha graças ao São Francisco. Sou muito grata. Eu escolhi estar aqui e enquanto Deus me der saúde pretendo continuar”.